Olá,
"O mais difícil mesmo é tirar das pessoas os conceitos confortáveis e difusos que lhes foram incutidos durante anos."
Pois agora é que tu disseste tudo !Acredito que passe muito por ai ! E contra mim falo mas realmente é um conceito confortável.
Foi esse sentimento que o tal representante de uma empresa que estava na feira de Oeiras não me retirar.Mas porque razão não consegui ainda mudar a minha opinião ? Bom nestas coisas cada um é como é.
Eu por exemplo gosto de ver e experimentar antes de comprar.
Mesmo tendo-vos aos dois como boas referências, credíveis e de confiança, que não estão a querer vender, de quem normalmente fujo e duvido, mais sim informar e partilhar, a mudança de opinião ainda não aconteceu por causa disso. Da experiência.
Acredito que a vossa formação e profissão vos tenha já proporcionado isso em relação a este tema. Mas como estou afastado do meio não tive ainda essa oportunidade.
Admito que se por exemplo tivesse amigos ou familiares, proprietários de uma construção deste tipo, onde eu pudesse avaliar, ver e como eles partilhar a experiência sobre todos os aspectos, ou ainda que houvesse algum espaço publico que usasse este tipo de solução, onde pudesse "ver e experimentar", sentir a casa em diversas alturas do ano, pudesse mudar a minha opinião.
Sobre a manutenção, tenho a ideia de que mesmo precisando de manutenção, uma casa de tijolo e cimento não deve precisar da mesma manutenção, se calhar mais atenta e cuidada que acredito deve ser necessária na construção em terra. Confirmas este ponto ?
O mesmo acontece com as casas de madeira que necessitam ser cuidadas no seu material para que durem muitos anos."
Resposta de Taipal:
Sem dúvida que em relação à Arquitectura de Terra a experiência muda tudo, arrisco-me a dizer que primeiro estranha-se e depois entranha-se. CUIDADO! A plasticidade e a textura do material vão apaixoná-lo no momento que tomar contacto com ele!! E realmente não estamos a tentar vender nada, tanto podemos projectar em tijolo, em vidro, como em canas de bambu, apenas queremos passar aquilo que é uma boa ideia, um material com longa história e um enorme potencial, com características únicas.
Não é preciso esconder, tem fraquezas, mas a inteligência e uma contrução integrada podem facilmente fazer delas forças. Quanto à questão que coloca sobre a manutenção, depende se a taipa (neste caso) estiver à vista ou revestida(nunca se deve rebocar com cimento), se se encontra no interior ou no exterior, mas precisa de pouco mais que uma escovagem com escova macia ou uma consolidação anual ou bi anual com consolidante natural (tipo água de cal pulverizada). Conheço no entanto diversos casos onde até hoje nada disto foi feito por nem sequer precisarem.
1_
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Fotos1 e 2_Habitação e Atelier_Cortinhas_São Luís_Odemira
Arq. Alexandre Bastos
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Fotos 3 e 4_Mercado de São Luís_Odemira
Arqtos Teresa Beirão e Alexandre Bastos
Apresento-lhe agora dois casos para reflexão e conversa.
O primeiro é o seguinte, é hoje possivel perceber que o Betão visto no seu início como material SuperHerói e eterno, não o é. As "fibras" metálicas que lhe conferem resistência aos esforços quando oxidam criam graves problemas na estrutura, e isto pode ocorrer entre os 10 e os 50 anos após a construção, tendo por isso um tempo de vida limitado.
Será que todas as pessoas têm a consciência da dificuldade e custos de recuperação da corrosão interna numa estrutura em betão e já agora do consumo de energia estúpido que é necessário para reciclar a mesma?
Uma outra situação;
Uma boa parte dos habitantes da "nova" Aldeia da Luz queixam-se ainda hoje de que para além das "tretas" da EDIA, com os equipamentos prometidos que ainda não foram feitos, da Vila não ser igual, que sentem sobretudo de que as suas casas são frias no Inverno e muito quentes no Verão e que apresentam um grande vazio em relação às antigas habitações.
O primeiro é o seguinte, é hoje possivel perceber que o Betão visto no seu início como material SuperHerói e eterno, não o é. As "fibras" metálicas que lhe conferem resistência aos esforços quando oxidam criam graves problemas na estrutura, e isto pode ocorrer entre os 10 e os 50 anos após a construção, tendo por isso um tempo de vida limitado.
Será que todas as pessoas têm a consciência da dificuldade e custos de recuperação da corrosão interna numa estrutura em betão e já agora do consumo de energia estúpido que é necessário para reciclar a mesma?
Uma outra situação;
Uma boa parte dos habitantes da "nova" Aldeia da Luz queixam-se ainda hoje de que para além das "tretas" da EDIA, com os equipamentos prometidos que ainda não foram feitos, da Vila não ser igual, que sentem sobretudo de que as suas casas são frias no Inverno e muito quentes no Verão e que apresentam um grande vazio em relação às antigas habitações.
Aldeia da Luz_2001_foto de Alina Maria Sousa
Aceitando que esse vazio possa também resultar do trauma da deslocalização para um espaço desconhecido, atrevo-me a introduzir o facto das construções antigas contemplarem, técnicas de construção tradicionais como a taipa, com paredes grossas com suficiente inércia térmica, que respiravam e que conferiam às habitações uma alma que o tijolo e o cimento não têm, aspecto fundamental e não previsto por quem projectou e construiu a nova Aldeia da Luz.
2 comentários:
Esta publicação é antiga mas só agora a vejo. Por já ter contactado com o atelier que projectou habitação na Aldeia da Luz e por saber o cuidado e entusiasmo com que já estudaram a taipa (livro Arquitectura de Terra em Portugal, pgs. 168 e 169) atrevo-me a comentá-lo. De facto, como sabemos, a taipa ainda é um símbolo de pobreza. Num cenário de alteração de lugar, de perda de identidade, tentou-se responder com o que seria uma inovação positiva.
Recuso-me a olhar para a taipa como simbolo de pobreza. É uma visão desajustada do conhecimento que hoje em dia está disponível. Sinceramente, numa situação como a da Aldeia da Luz, construir em betão e tijolo casas com aspecto de taipa, não me parece nem uma inovação positiva em termos arquitectónicos, nem respeitosa da identidade cultural das pessoas, pq é disso que falamos, de um elemento cultural que não tem que ver apenas com o sitio mas sobretudo com as pessoas. Tirem-lhes o lugar mas não lhes levem a identidade, aquela mistura de memória e vivência constante das pessoas e coisas que o filme Blade Runner discute de forma tão sublime. Aquilo que afirmo é que a identidade não está apenas no lugar, não ficou submersa nas águas do Alqueva.
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