Manifesto Habiter la Terre/Habitar a Terra
"As revistas EcologiK e Architectures à vivre associam-se ao CRATerre, Escola Nacional Superior de Arquitectura de Grenoble e à "Cadeira UNESCO Arquitectura de terra" para lançar um apelo à solidariedade na defesa do direito a construir com terra crua.
O uso deste material concilia de facto o cultural com o social, o ecológico e a economia, pilares do desenvolvimento sustentável. Este manifesto reivindica o valor universal das Arquitecturas de terra simultaneamente enquanto Património Mundial e enquanto solução contemporânea incontornável para um futuro ecoresponsável.
Há onze milénios que a Humanidade demonstra uma assombrosa capacidade de construir com terra crua, de simples habitações a palácios e cidades inteiras. Nos dias de hoje, em contextos e territórios muito variados, este material de construção continua a ser o mais utilizado, dado que um terço da população mundial vive em casa de taipa, de tijolos de adobe, de tabique ou de blocos de terra comprimida. Modestas ou monumentais, estas Arquitecturas estão presentes em 190 países e testemunham uma qualidade de vida quotidiana e inovações técnicas que aliam estreitamente saber-fazer e audácia, arte e virtuosismo. Enquanto por um lado estas construções são regularmente descobertas ou redescobertas pelos profissionais e pelo grande público, por outro alguns recusam-nas, destroem-nas e interditam-nas em nome de novas normas de construção de habitação de hoje e de futuro. Existem contudo múltiplas realizações arquitectónicas contemporâneas de terra, geralmente construídas de forma solidária, que são exemplares, inovadoras e belas. Embora elas respondam integralmente ao que desejamos para nós e para as gerações futuras, são frequentemente negligenciadas, desvalorizadas e ignoradas.Afirmamos portanto que, face aos desafios cruciais ligados à preservação do ambiente natural, à diversidade cultural e à luta contra a pobreza, a utilização do material terra é incontornável e insubstituível. Nós reivindicamos o direito de construir em terra porque cada ser humano tem direito a uma habitação à medida das suas necessidades e dos seus recursos. O habitat e o urbanismo de amanhã devem responder duradouramente a esta aspiração.
Construir em terra é repensar simultaneamente à escala global e local o emprego dos recursos do nosso planeta, associando terra, água e sol num verdadeiro desafio tecnológico, cultural, social, económico e ambiental.Construir em terra é defender o direito de colocar em obra um material de construção natural e ecológico, abundante, facilmente disponível e acessível ao maior número, afim de permitir aos mais desfavorecidos a construção da sua habitação "com o que têm debaixo dos pés".
Construir em terra é promover os recursos locais, simultaneamente humanos e naturais, melhorar as condições de vida, valorizar a diversidade cultural e contribuir para manter os sistemas de entre-ajuda social na construção e na manutenção do construído.
Construir em terra é empregar um "betão natural" que oferece uma verdadeira alternativa ecológica e económica face aos materiais e processos de produção nocivos ao ambiente.
Construir em terra é revalorizar, adaptar e transformar mais de 11 000 anos de conhecimento e de "saber fazer" e associar um material secular a uma arquitectura inovadora.
Construir em terra é reconhecer o valor cultural das edificações vernáculas, opor-se à sua destruição e encorajar a reabilitação dessas construções respeitando os seus materiais e a sua expressão arquitectónica.
Construir em terra é prosseguir o desenvolvimento da arte de construir e da sua materialização num complexo conjunto unindo arquitectura, estética e decoração.
Construir em terra é desenvolver a inovação para optimizar o material, simplificar a colocação em obra e produzir novas arquitecturas.
O objectivo deste manifesto em favor da construção de terra é o de:
• Desbloquear os problemas devidos a regulamentações e a normas totalmente inadaptadas a este material e aos seus usos;
• Favorecer a formação de profissionais para a construção contemporânea afim de melhorar a qualidade da habitação;
• Ensinar a Arquitectura de terra como uma disciplina de parte inteira, em particular nas escolas de Arquitectura, de Engenharia e de componente humanística.
Ao lançar "Habitar a terra": manifesto para o direito à construção em terra crua", nós tomamos partido pela inovação, com o objectivo de assumir o desafio maior que é o de uma Arquitectura sustentável tanto nos países do Sul como nos do Norte. "
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