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10 julho 2021

Cerca Fernandina_Lisboa

Trabalhos de conservação e restauro de troço da muralha Fernandina, existente no Pátio de Góis, S. Vicente, Lisboa pela empresa Arqueohoje
Cerca Fernandina - Lisboa
“Erguida no final do Século XIV (década de 1370) pelo Rei D. Fernando para defesa da cidade de Lisboa, a ‘Cerca Fernandina’ constitui-se ainda hoje e apesar da sua aparente invisibilidade como elemento efetivamente presente no quotidiano da cidade. Esta realidade é reforçada pelas diversas ‘dimensões’ da sua presença, presença que poderá ler-se quer em determinadas zonas da cidade nas quais, apesar de já ausente, a ‘Cerca’ se constituiu como elemento determinante na consolidação de um tecido urbano, quer ao nível de uma efectiva presença e visibilidade de significativos troços construídos da Cerca em determinadas zonas da cidade.
(…)
Face à urgente necessidade de assegurar proteção à população e aos seus respectivos bens perante as novas ameaças de guerra com Castela, e contando o reino com a presença de numerosos operários, inicia-se assim em 1373, por determinação do Rei D. Fernando, a construção de uma nova cerca que envolveria a realidade do povoamento então existente. Esta nova muralha, vulgarmente designada por 'Cerca Nova' ou 'Cerca Fernandina', encontrar-se-ia passados três anos aparentemente construída na sua maior extensão, abrangendo uma área de 101 hectares, seis vezes a área da antiga ‘Cerca Moura’.
Englobando os territórios recentemente formados e anexando-os à área primitiva da cidade, a 'Cerca Fernandina’, na sua sucessão de muralhas e torres, encontrava-se parcialmente subdividida em vários troços; troços designados por Troço Ocidental, Troço Oriental e os Troços Marginais ou Fluviais, desenvolvendo-se estes últimos ao longo do Rio Tejo, completando-se com o Troço Meridional da antiga ‘Cerca Moura’ e com o Troço Setentrional do Castelo de S. Jorge.
(...)
De importância preponderante para a morfologia da Cidade, a nova superfície territorial compreendida pelo desenho destas novas muralhas passava a abranger então uma área de 88 hectares, vindo a aumentar significativamente a superfície defendida pela anterior 'Cerca Moura' que apenas abrangia cerca de 16 hectares, e os seus novos 5400 metros de muralhas, guardados pelas suas 77 Torres, onde se abriam 11 Portas para terrenos até então praticamente despovoados, seriam determinantes e estruturadores para o futuro crescimento urbano de Lisboa, crescimento esse que tenderá durante séculos a processar-se em função destas mesmas Portas e estradas que para elas convergem.
Tendo em conta o importante papel defensivo da nova ‘Cerca’, todo o processo associado ao seu desenho e planificação construtiva revelou-se particularmente coerente.
Deste modo, as muralhas da nova ‘Cerca’ teriam aproximadamente uma altura média de 8 metros, variando a sua espessura consoante a maior ou menor vulnerabilidade que então se atribuía aos diferentes locais da cidade, sendo de modo geral os vários troços da 'Cerca’ constituídos por muros de alvenaria maciça com uma espessura de cerca de 1,75 m, existindo no entanto numerosos fragmentos cuja espessura seria de aproximadamente 2,20 m e que seriam obtidos através de dois muros de alvenaria paralelos, com cerca de 0,50 m, cujo intervalo seria preenchido com taipa muito calcada.“
Presença, Memória e Resignificação como Estratégia de Reabilitação para a Contemporaneidade.
Marta Feliciano e António Leite, Arquitectos, Professores Auxiliar da F.A.U.T.L

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