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31 outubro 2008

A Terra certa para a construção_Vol.I

Quantidade de Argila, testes de solo

Na construção com terra crua, a escolha da melhor terra é essencial, sendo a percentagem de argila um factor essencial.
As argilas são as partículas de menor dimensão dos solos, funcionam como layers, imans microscópicos e são elas que garantem a coesão e (im)permeabilidade da parede. O material terra deve conter pelo menos 5% de argila para atingir força estrutural. Por outro lado a argila expande e retrai com a alteração do nível de humidade, criando dificuldades que podem e devem ser controladas.

Uma vez que as paredes de terra são normalmente construídas com subsolos conseguidos localmente, existe uma ampla variedade no tipo de solos que podem ser utilizados.
A aplicação de testes e ensaios de controlo de qualidade e adequação (de que falaremos em concreto nos próximos posts) é por isso fundamental.
Alguns destes testes podem ser desenvolvidos no decurso da obra, sem recurso a instrumentos de laboratório. É conveniente, no entanto, que todos os testes sejam feitos, para de forma segura e credível se possa executar a obra.



Como primeiro exemplo simples de teste (Sedimentação) podemos deitar a terra a utilizar num frasco de vidro redondo com um fundo plano, e encher até ¼ da sua altura com terra e os restantes ¾ com água (ver figura acima).

Tapa-se o frasco e deixa-se repousar durante uma hora para permitir uma impregnação de todas as partículas. Em seguida, agita-se fortemente e deixa-se repousar durante mais uma hora, ao fim da qual agita-se novamente e mais uma vez deixa-se repousar durante pelo menos 45 minutos.

A partir dessa altura, é possível começar a observar os resultados. As partículas sólidas começam a assentar, podendo medir-se com alguma precisão as diferentes texturas na amostra. Os saibros depositar-se-ão no fundo, seguidos da camada de silte e da de argila e, à superfície da água, surgem as partículas orgânicas. Ao fim de oito horas, pode então medir-se a altura das diferentes camadas e avaliar, em termos percentuais, a constituição da terra. Deve-se ter em consideração, no entanto que as partículas argilosas aumentam de volume com a presença da água.

Teste da sedimentação de três tipos de solos, Tese de Mestrado, Eng. Idália Gomes

É sempre possível modificar ou estabilizar solos ou argilas, através da adição percentual de areias lavadas, pedra (taliscas_xistos ou granitos) de pequenas dimensões, cal, palha, casca de arroz, ou mesmo diferentes argilas.

No entanto, é preciso ter em atenção que diferentes técnicas de construção com terra requerem diferentes misturas de solo, pelo que o conhecimento específico destas matérias e a realização dos testes é tão importante.


Este diagrama triaxial vem complementar o apresentado no post Argila + Areia + Silte = TERRA.

Fotos_Revista APUNTES

Fotografias que acompanham os diversos textos sobre Arquitectura de Terra do vol 20 - nº 2 da Revista APUNTES_Pontificia Universidad Javeriana.
A beleza e a pluralidade das imagens são fantásticas.

El uso masivo de la tierra como material de construcción en Colombia
Santiago Rivero Bolaños

Cuadrilla de tapieros en una obra contemporánea ubicada en Barichara.

Arquitectura de tierra contemporánea: tendencias y desafíos
Rodolfo Rotondaro

Tapia de Capilla de la Gratitud, Mendoza, Argentina. Bórmida & Yanzón, arquitectos.
Autor:Rodolfo Rotondaro.
Cúpulas de adobe
Gernot Minke

Residencia en Kassel, Alemania.
Investigar, formar, capacitar y transferir.
Los grandes desafíos de la arquitectura y construcción con tierra

Lucía Esperanza Garzón, Célia Maria Martins Neves

Muro de bahareque construido en el taller de TerraBrasil 2006,
Brasil, 2006.
Autor: Cristina Erdelyi.

Investigación y formación para la evolución de las tradiciones.
Los bloques perfilados para la autoconstrucción
Roberto Mattone

Obra en La Cuba de Baixo a Sapè, Brasil.
Rehabilitación sísmica de muros de adobe de edificaciones monumentales mediante tensores de acero
Cecilia López Pérez, Daniel Ruiz Valencia, Sandra Jérez Barbosa, Pedro Quiroga Saavedra, Jairo Uribe Escamilla, Edgar Muñoz Díaz

Muro de adobe en el barrio Las Cruces, Bogotá, Colombia.
Autor: Enrique Daza.

Estudios de vulnerabilidad sísmica,
rehabilitación y refuerzo de casas en adobe y tapia pisada
Luis EduardoYamín Lacouture, Camilo Phillips Bernal, Juan Carlos Reyes Ortiz, Daniel Ruiz Valencia

Edificaciones de adobe en el barrio La Candelaria, Bogotá, Colombia.
Autor: Maarten Goossens.
La construcción tradicional en el espacio mediterráneo portugués
Victor Mestre

Construcción con tapia. Noudar, 1984.
Arquitectura prehispánica de tierra:
conservación y uso social en las Huacas de Moche, Perú
Ricardo Morales Gamarra

Huaca de la Luna.
La arquitectura de tierra en Colombia, procesos y culturas constructivas
Clara Eugenia Sánchez Gama

Hostal Santa Bárbara, Barichara, Colombia, 2006.
Autor: Santiago Moreno.
El uso de la tierra como elemento constructivo en Brasil: un corto panorama del proceso histórico, manejo, usos, desafíos y paradigmas
Raymundo Rodrigues Filho

Rua da Câmara en el pueblo de Tiradentes, Minas Gerais, Brasil.
Construcciones de tierra del siglo xviii.
Tecnología y construcción con tierra
Graciela María Viñuales

Construyendo la Estación Científica de la Reserva de la Biosfera Laguna de Pozuelos, altiplano de
Jujuy, Argentina, 1996; Rodolfo Rotondaro

Teoría de la conservación y su aplicación al patrimonio en tierra
Mariana Correia

Pormenores decorativos de la Kasbah Aît Ben Moro, Valle del Dadès, Marruecos.
Arquitectura en tierra. Hacia la recuperación de una cultura constructiva
Luis Fernando Guerrero Baca

Antigua ciudad de Paquimé, Chihuahua. Zona arqueológica mexicana incluida en la Lista de Patrimonio Mundial, construida en su mayor parte con tierra.

29 outubro 2008

Revista_APUNTES_Colombia



A revista colombiana APUNTES - Publicação semestral da Faculdade de Arquitectura e Desenho da Pontificia Universidad Javeriana, no seu vol 20 - nº 2 de julho a Dezembro · 2007 , apresenta-nos uma edição inteiramente dedicada à Arquitectura de Terra.
Destaque especial para as intervenções dos portugueses (Arqs. Mariana Correia e Victor Mestre).

Boas leituras.
http://revistas.javeriana.edu.co/sitio/apuntes/sccs/tabla_contenido.php?id_revista=29

notícia divulgada por: Centro da Terra_CdT

28 outubro 2008

Argila + Areia + Silte = TERRA


Diagrama tri-axial de classificação da terra [Faria, 2005].

"O factor que maior influência tem na resistência da edificação com terra crua é o desempenho mecânico do solo utilizado. A composição da terra para construção em taipa varia de uma região para outra. Em certos casos, pode ser necessário misturar terras de vários locais ou profundidades para obter uma composição mais satisfatória para a construção. Os constituintes mais importantes da terra são a argila, a areia e o silte.

A argila é o constituinte do solo que mais influencia o seu desempenho mecânico, pois é ela que garante coesão e alguma resistência à acção da água.
No entanto, um solo com demasiada argila pode criar fendas durante a secagem, devido a efeitos de retracção. Assim, a argila pode ser o “ingrediente mágico” ou problemático da construção em terra.
É na conjugação da argila e dos restantes constituintes que se consegue obter um bom solo para a construção (ver diagrama).

Com os conhecimentos existentes de Mecânica de Solos podem realizar-se ensaios que levem à escolha dos solos com características adequadas a este tipo de construção.
Os principais ensaios são: a Análise Granulométrica, o Limite de Consistência (ou Atterberg), a Actividade da Argila, a Retracção Relativa e o Ensaio de Compactação.
O CRATerre (Centre International de la Construction en Terre) tem estudos que neste âmbito podem servir como balizas para a escolha ”óptima” dos solos [Marques, 2002].
Há também diversos testes empíricos que podem ser realizados para verificar a qualidade do solo.”

Excerto da Dissertação de Mestrado - Análise Sísmica de uma Construção em Taipa, Parreira, Daniel José dos Santos, Lisboa, Setembro 2007

27 outubro 2008

Plataforma pelo Património Cultural_ICOMOS_Portugal


Lançamento público da PLATAFORMA PP-CULT

O Património como Valor Estratégico e Oportunidade Nacional ( texto em PDF, aqui) é um documento que creio merecer uma leitura atenta, uma vez que reflete sobre questões fundamentais de estudo, salvaguarda, gestão e promoção do património cultural português

O ICOMOS-Portugal fundou, com mais de uma dezena e meia de associações cívicas e não governamentais, a PLATAFORMA PELO PATRIMÓNIO CULTURAL (PP-CULT). Esta plataforma inter-associativa foi apresentada publicamente dia 16 de Outubro, em Lisboa.

Depois da leitura da declaração conjunta, iniciou-se o primeiro dos debates públicos que esta plataforma irá promover (Programa aqui).

25 outubro 2008

1 Livro que encontrei por aqui

Os especialistas que comentem!

Conservation of Clay and Chalk Buildings
by Gordon Pearsonitle

ISBN: 1873394004
PUBLISHER: Donhead Publishing, 1992

This standard work provides practical guidance on appropriate methods of conservation and repair of earth buildings using traditional materials. It is the first major book on the subject of earth building since Clough Williams-Ellis and the Eastwick-Fields published Building in Cob, Pisé and Stabilised Earth in 1947. It deals with the qualities and characteristics of clay and chalk and the way in which they have been used to construct buildings. Advice is given on soil analysis, the philosophy of repair techniques and the factors to be considered before altering, converting or extending an earth building. The author primarily advocates repair techniques using traditional materials but the role and suitability of certain modern materials is also considered.
This book will be essential reading for surveyors, architects, conservation officers, building contractors and owners seeking practical guidance on the construction, conservation or repair of earth buildings.

24 outubro 2008

Texto_Arquitectura de Terra_A Taipa

Vou uma vez mais ao Baú das Pesquisas buscar um texto sobre Taipa, publicado em 1985!!! (tinha eu largado pouco tempo antes a chucha) no jornal dos Arquitectos nº12, da autoria do Arquitecto Victor Mestre.

Ainda que a frase inicial esteja felizmente desadequada na actualidade, o texto reflecte bem a simplicidade do processo de construção (referência para as pequenas diferenças na técnica e nos nomes dos utensílios entre regiões) e o porquê da persistência desta técnica na nossa Cultura e Arquitectura Tradicional.



"
Arquitectura de Terra – A Taipa
“Com a lenta mas progressiva industrialização do séc. XX, os processos artesanais de construção decaíram até praticamente se encontrarem extintos actualmente.
Todavia é vulgar depararmos com este universo e respectivos materiais, adormecidos nas paredes caiadas das aldeias, vilas, e também cidades do Interior (Sul).

Assim, podemos constatar que a sua durabilidade é apreciável dependendo muito da manutenção que lhe dedicam (aliás como qualquer outro processo construtivo).
A Arquitectura de Terra no nosso país apresenta duas componentes: o bloco de terra de pequenas dimensões cozido ao Sol –o adobe – e a taipa, que se desenvolve a partir de taipais, formando aquilo que modernamente se chama cofragem. Tanto o adobe como a taipa são compostos por barros crus, cuja origem se deve à alteração superficial dos xistos argilosos, comuns ao solo alentejano, parte do Litoral do Algarve e ainda em zonas sedimentares dos rios ribeiras e barrancos (A).

Embora se saiba que a taipa é anterior aos mouros que colonizaram e povoaram grande parte dos campos do Sul de Portugal, foram eles, no entanto, que a utilizaram em larga escala, (contribuindo definitivamente para a sua vulgarização), juntamente com outros materiais que hoje identificam a Arquitectura Popular do Sul entre outros o lambaz- tijolo fino e de forma rectangular (0,15x0,30x0,05) utilizado na construção de abóbadas e frisos decorativos, a baldoza, de forma quadrada (0,20x0,20x0,05) usada nos pavimentos, o tijolo burro (0,22x0,11x0,07) para pilares resistentes, arcos de verga de portas e janelas, chaminés, grelhas decorativas, etc.

A distribuição geográfica da taipa, de um modo geral, está compreendida pela região do rio Sado, planícies alentejanas, interrompida pelas serras algarvias, para de novo surgir no litoral mediterrânico.

O ciclo das construções de Taipa inicia-se com a execução dos caboucos em pedra do local, normalmente xisto. Estes são construídos até 50 cm acima do solo, portanto iniciando já um arranque declarado da parede. Deste modo, evita-se que a taipa tenha contacto directo com a terra, impedindo assim a absorção de humidades. Após se ter seleccionado o local de extracção, a terra é limpa de pedras de média e grande dimensão, para seguidamente ser amassada com pouca água e pedrica (pequenas pedras normalmente de xisto que oferecem maior consistência ao combinado). Com os taipais já montados sobre o murete de pedra, a terra amassada é transportada em cestos ou baldes até ao seu interior, onde dois homens munidos do pizão comprimem o material com fortes pancadas até este ceder em igual percentagem por todo o interior. Esta operação só termina quando se formar à superfície uma película de nata castanha, recebendo então novo balde de terra. A cofragem propriamente dita compõe-se pelos taipais laterais, enxameis e pelas comportas, formando assim uma caixa sem tampa e sem fundo.



A montagem destas quatro faces consegue-se a partir dos costeiros, (elementos fixos à parte lateral dos taipais) que suportam o travamento lateral inferior através das agulhas e superior das cangas, estas últimas por sua vez recebem as cunhas para controlar a intensidade do fecho.
A descofragem é feita sempre que termina o enchimento dos «enxaméis» (taipais e comportas) para logo de seguida se montarem de novo ao lado do «bloco» construído; este exposto ao sol irá endurecer lentamente.
O processo repete-se com uma pequena supressão; uma das comportas deixa de ser necessária para o novo «bloco» poder colar ao anterior. Note-se ainda que o arranque da fiada superior inicia-se desencontrada da inferior, de modo a permitir o travamento nos cunhais.
(Um ano) após a conclusão das paredes e telhado, a casa é rebocada com o mesmo barro da taipa mas peneirado e por vezes, enriquecido com uma ligeira percentagem de cal.
Finalmente, o ciclo termina com a caiação. Esta, com as sucessivas demãos, forma uma película resistente à intempéries e à luz solar.

Dada a facilidade com que se constrói ou reconstrói um edifício desta natureza, aliada a uma certa economia de meios, julgamos interessante recuperar parcial ou totalmente estas técnicas tradicionais, aperfeiçoando-as através de novos conhecimentos científicos e mesmo de novos conceitos de arquitectura.

(A) Orlando Ribeiro, Temas Portugueses, Geografia e Civilização
(B) Victor Mestre, Recuperação de uma Casa de Arquitectura Popular em Safara, Moura, 1982/3

Outras obras consultadas:
Arquitectura Popular em Portugal, Associação dos Arquitectos Portugueses, 1961,
A Arquitectura Popular Portuguesa, Mário Moutinho, 1979.
Encontro de Mestres Construtores «Noudar 84» Câmara Municipal de Barrancos/Dep. de História da Universidade de Lisboa, 1984.


"
Mestre, Victor, in Jornal dos Arquitectos nº12, Lisboa, 1985

23 outubro 2008

Arq_Terra_Haus Ihlow_Alemanha


Do arquitecto alemão Eike Roswag apresento-vos a Haus Ihlow, a renovação e ampliação para habitação de um antigo edifício em pedra, numa zona rural próximo de Berlim, com a utilização de taipa estabilizada.



A construção basea-se na regulamentação alemã para construção com terra, o "Lehmbauregeln", com paredes autoportantes com espessura surpreendente para este material, 30 cm, bem como a inclusão de grandes panos de vidro.




A habitação apresenta sistemas de aquecimento solar passivo, com um colector de água quente para 60 m2 e capacidade de armazenamento de 4,000 litros de água, complementado com uma lareira, conectada ao sistema de aquecimento pelo pavimento e paredes.



Este gabinete alemão werk_A tem desenvolvido outros projectos interessantes com terra, como a Meti Handmade School no Bangladesh.

22 outubro 2008

Save the Heritage of Hassan Fathy

International Association for the protection and conservation of the heritage of Hassan Fathy

Desenhos do Arq. Hassan Fathy para New Gourna, Egipto




New Gourna, Egipto, Arq. Hassan Fathy


Abóbadas Núbias em construção, Arq. Hassan Fathy

Fotos retiradas do site http://boomer-cafe.net/version2/index.php/Architecture-des-annees-50/Hassan-Fathy-construire-avec-le-peuple.html

ALSUD_Curso Profissional de Técnico de Recuperação do Patrimonio Edificado



ALSUD «Curso Profissional de Técnico de Recuperação do Patrimonio Edificado»
Curso Profissional de Técnico de Recuperação do Património Edificado

Entidade: Escola Profissional ALSUD (sucede à delegação de Mertola da Escola Profissional Bento Jesus Caraça).

Entidades parceiras: Municipios de Mertola, Alcoutim e Tavira, Associação Jean Piaget e Somincor.

Duração: 3 anos lectivos (3100 horas em componente Sociocultural, Cientifica e Técnica).

Certificação Profissional de Nível III.
Informações e inscrições: http://www.alsud.pt/


21 outubro 2008

A despensa_


A despensa do amante de Arquitectura de Terra é assim... arrumadinha.

Lista Património em Terra_Unesco

Património Arquitectónico em TERRA na Lista do Património Mundial da UNESCO
Esta lista foi elaborada pelos membros de Terra em colaboração com: Hubert Guillaud, Hugo Houben, Alejandro Alva, Raymundo Rodrigues, Fernando Pinto, José María Sastre, Kumito Shimotsuma, Carolina Castellanos. Dos 563 bens culturais que o Comité inscreveu na Lista do Patrimonio Mundial, 96 obras são, parcial ou totalmente construídas em Terra, o que corresponde a 17 % do total.
Esta lista foi elaborada em Abril de 2004.
ARGÉLIA
1982
M'Zab Valley (some parts)
1992
Kasbah of Algiers (some parts)
AZERBEIJÃO
2000
Walled city of Baku with the Shirvanshah's Palace and Maiden Tower (the walls and majority of people's houses)
BOLÍVIA
1987
City of Potosí (mainly housing)
1991
Historic City of Sucre (mainly housing)
CHINA
1987
The Great Wall (numerous portions)
1987
Mogao Caves
1987
Mausoleum of the First Qin Emporer (separation walls)
1994, 2000, 2001
Historic Ensemble of the Potala Palace, Lhasa (partially in rammed earth)
FRANÇA
1996
Canal du Midi
1998
Historic City of Lyon (houses in Rammed Earth in Croix-Rousse)
2001
Provins, Town of Medieval Fairs (historic town in colombages)
GUATEMALA
1979
Antigua Guatemala (people's housing)
IRÃO
1979
Tchogha Zanbil
MADAGÁSCAR
2001
Royal Hill of Ambohimanga
MALI
1988
Old Town of Djenné
1988
Timbuktu (Mosques and housing)
1989
Cliff of Bandiagara (Land of the Dogons)
NEPAL
1979
Kathmandu Valley
OMÃ
1987
Bahla Fort
REPÚBLICA DA COREIA
1997
Changdeokgung Palace Complex
SÍRIA
1979
Ancient City of Damascus (people's housing)
1986
Ancient City of Aleppo (people's housing)
TUNÍSIA
1979
City of Carthage (people's housing of the 2nd Century B.C. on the Hill of Byrsa)
1979
Medina of Tunis (people's housing)
1985
Punic Town of Kerkouane and its Necropolis (people's housing of the punic period)
1988
Medina of Sousse (people's housing)
REINO UNIDO
1987
Hadrian's Wall (portions)
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
1978
Mesa Verde ("Jacal houses")
1982
Cahokia Mounds State Historic Site
1987
Chaco Culture National Historical Park (Kiwas and people's houses)
1992
Pueblo de Taos
UZBEQUISTÃO
1990
Itchan Kala
1993
Historic Centre of Bukhara
2000
Historic Centre of Shakhrisyabz (people's houses)
VENEZUELA
1993
Coro and its Port

X Jornadas do Património do Algarve_Albufeira



Novos desafios e oportunidades da cultura enquanto produto turístico e como elemento de desenvolvimento económico
A 10ª edição das Jornadas do Algarve, subordinadas ao tema Património e Turismo – Sustentabilidade Económica da Cultura, realizam-se nos dias 23 e 24 de Outubro, no Auditório Municipal de Albufeira, contanto com um painel temático variado.
Para visualizar os paineis de conferencistas e o boletim de inscrição podem clicar:
E já agora aproveitem e visitem o Castelo de Paderne (na imagem), obra de referência em taipa militar!

20 outubro 2008

1ª Conferência Mediterrânica sobre Arquitectura de Terra

MEDITERRA 2009
Cagliari, Itália
13-16 Março 2009



Mediterra 2009
1st Mediterranean Conference on Earth Architecture
13-16 March 2009 - Cagliari, Italy


Aims
Mediterra 2009 aims principally to state the art of research, to study recent achievements in heritage conservation and architectural design, to increase university and professional training and to gather the network activities developed in the Mediterranean region.
Contribution
This 1st Conference will include specialists from throughout the Mediterranean region. It will also have a transdisciplinary contribution that will bridge natural sciences, social sciences, and professional practices. A new global challenge requires a broad definition of a new discipline, with earth architecture at the crossroads of the sciences.
The Mediterranean Region, with its history of many cultures and civilizations, now emerges as the core of new political and societal challenges being shared among Europe, North Africa and the Middle East.
Program
Friday 13th - Opening of the Conference (Presentations related with the 1st Theme)
Saturday 14th - Conference (Presentations related with the 2nd and 3rd Themes). Official dinner.
Sunday 15th - Conference and Closure (Presentations related with the 4th and 5th Themes) Monday 16th - Visit to earth architecture in Sardinia Organized by DiARCH Facoltà di Architettura, University of Cagliari ESG Escola Superior Gallaecia CRATerre-ENSAG International Research Center and Unesco Chair earth architecture RAS Regione Autonoma della Sardegna
Under the Aegis of UNESCO World Heritage Centre ICCROM International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property ICOMOS-ISCEAH International Scientific Committee on Earthen Architectural Heritage GCI Getty Conservation Institute
Themes
1. Earth-building cultures and traditional architecture
2. Archaeology, history and anthropology
3. Conservation of cultural heritage
4. Research about architecture, town planning and cultural landscape
5. Academic teaching and professional training
Languages French & English (with simultaneous translation)
For more informationMediterra 2009 - Facoltà di Architettura - DiARCHPiazza d'Armi 16 - 09123 Cagliari - Italy E-mail
mediterra@unica.it - Site http://people.unica.it/mediterra/Tel. (+39) 070 6755807 - Fax (+39) 070 6755816

Fotos Arquitectura_Marrocos_Link

Fazemos hoje uma ligação ao Blog do Arqueólogo, Poeta e Ensaísta Prof. Vitor Oliveira Jorge, com uma bela série de fotografias de Arquitectura com Terra em Marrocos.
A Arqueologia e a Arquitectura, como na vida, nas suas diferenças e semelhanças, aproximam-se e dialogam.

14 outubro 2008

Conferência_Arq Terra Sul_Marrocos


ARQUITECTURAS EM TERRA DO SUL DE MARROCOS: IMPRESSÕES DE UMA (BREVE) VIAGEM
Conferência
por
Vítor Oliveira Jorge*
DCTP-FLUP
Presidente da Direcção da SPAE; Prof. da Faculdade de Letras do Porto

dia 18 de Outubro de 2008, pelas 16,30 horas
Centro Unesco do Porto
R. José Falcão, 100
Entrada livre
*blog: http://trans-ferir.blogspot.com/
E-mail: vojorge@clix.pt

09 outubro 2008

Tretas_


Crises...

Amigos_Auroville Earth Institute


O Auroville Earth Institute, com sede na Índia, tem como objectivos a Pesquisa, o Desenvolvimento, Promoção e Transferência de tecnologias baseadas na terra.
Tem neste sentido desenvolvido um trabalho de investigação e construção muito produtivo e com tempos recorde na área das construções com Terra, com realce para obras como a cúpula de Dhyanalinga (
PDF) ou a Mesquita Al Medy em Riyadh, na Arábia Saudita.
Com a direcção fundamental do Arquitecto Satprem Maïni (que esteve em Sines em Agosto de 2006 para uma Palestra sobre Construção com Terra Crua e Desenvolvimento) o Auroville Earth Institute tem diversas parcerias com o CRAterre, o ABC Terra no Brasil e com inúmeras ONGs, sendo ainda o representante indiano da Carta da UNESCO "Arquitectura de Terra, Culturas Construtivas e Desenvolvimento Sustentável".

Este post pretende dar a conhecer o seu mais recente trabalho que teve, desta vez, lugar no Nepal.

Aqui fica o mail enviado e que explica o projecto:

Dear Friends,

I just finished with local partners the construction in 16 days of a two-classroom school of 97 m2 in Nepal at Jantanagar. This school is a kind of prototype, as the Nepalese ministry of Education wants to build 50,000 classrooms in the next 5 years. We did this for the need of this community of Jantanagar but also to try convincing the Ministry of Education to adopt our technology.

We had a closing ceremony of the construction site with officials and engineers from the ministry of education on the 2nd October. They were convinced and they will try to get approval from their ministry in the next future.

You may visit with interest some news in our website at
http://www.earth-auroville.com/index.php?nav=menu&pg=unitnews&id1=38

Yours sincerely,

Mr. Satprem Maïni
Architect – Director Auroville Earth Institute
BASIN South Asia – Member
UNESCO Chair Earthen Architecture – Representative for Asia

08 outubro 2008

Imagens_Texturas_Continuação II



Tenho para aqui falado apaixonadamente sobre construção em terra crua e esqueci-me injustamente de precisar que material é este a que me refiro, e focar as diferenças entre o cru e o cozido.
Busco ajuda nos livros porque é para isso que eles nos servem, neste caso faço referência ao nosso homónimo "Arquitecturas de Terra", um "livro sobre arte"editado no final de 1993, como documento escrito da exposição que andou pelo Mundo, esteve na Gulbenkian e mudou a face da Arquitectura de Terra, da autoria do Arquitecto Jean Dethier, duas grandes referências, o livro e o Arquitecto, e deixo-os falar por mim.

"É pois necessário saber que se trata de dois materiais diferentes, não tanto pela origem como pela sua composição e natureza mas sobretudo pelo processo de transformação. Um e outro são recolhidos na camada superficial do solo; as técnicas de extracção, tradicionais ou actuais, são idênticas.
A terra que se destina a ser cozida é essencialmente composta de argila arenosa, rica em componentes silico-aluminosos, que a cozedura transformará. O fogo produz então no material uma estabilização irreversível. A "terra crua", pelo contrário, é um material composto, uma mistura natural de aglomerados, análoga ao "betão magro" vulgar, sem os elementos finos activos.
Em proporções muito variáveis, os cascalhos, as areias e as argilas constituem a terra crua, apta a ser utilizada na construção.
A grande diversidade das terras (…), resulta de uma multiplicidade, de factores: a natureza dos locais (segundo a latitude), a estrutura da rocha mãe subjacente (granito, calcário, etc.), o clima (pluviometria, ensolamento, altitude, calor, frio, etc.),a hidrologia e até o desenvolvimento local da fauna e flora, o grau de transformação do solo pela acção dos seres humanos (agricultura, obras públicas).

A “terra para construção” é sempre extraída abaixo da camada superficial de terra arável, que tem de ser cuidadosamente levantada. Esta é, com efeito, demasiado rica em matérias orgânicas e em elementos coloidais (húmus)
Instáveis, e ainda demasiado submetida a uma actividade biológica, para poder ser utlizada. É na espessura (variável) da camada estrutural do solo (dissimulada aos nossos olhos pela terra orgânica) rica em componentes estáveis (cascalhos e areias) e muitas vezes “limpa” de argilas, que é recolhida a terra para construção. (…)
A terra crua é fundamentalmente caracterizada pela sua granulometria (natureza e quantidade de agregados), plasticidade (aptidão a ser modelada), compressibilidade (possibilidade de densificação e de redução da porosidade) e coesão (propriedade de ligação dos agregados entre si).



Dethier, Jean, Arquitecturas de Terra, Fundação Calouste Gulbenkian Centro de Arte Moderna J.A. Perdigão, pág. 33, Lisboa, 1993

07 outubro 2008

Curso de Construção em Taipa_Cabaços_Odemira


Curso de Construção em Taipa, em Cabaços, Odemira
Vai decorrer de 19 a 25 de Outubro 2008, um Curso Teórico e Prático de Construção em Taipa que contempla os seguintes tópicos:

1_Como se encontra a taipa
2_ Analisar a qualidade da taipa
3_ Aditivos para melhorar a taipa
4_Taipa batida, bolos de barro, tijolos de taipa
5_ Rebocar com taipa
6_Chão de taipa e taipa no telhado
7_Particularidade da taipa nas edificações
8_Dar forma artística e cor à taipa
9_Ecológico – reciclavel, reutilizável
10_ Como a taipa liga com material industrial
11_ Experimentar as vantagens de viver numa casa de taipa – saúde, clima,viver em ligação com a natureza

O Curso pretende, para além da Construção em Terra, promover o contacto com a Natureza e o espaço rural alentejano, deixando tempo para passear, praia e lazer.

O Curso contempa ainda a Estadia, Almoços e Jantares com comida vegetariana.
Preço: 210 €

Encontram mais informações no site http://taipa.planetaclix.pt
ou pelo seguinte contacto:

Emmanuel W. Gounden Cabaços, Vale Ferro
Caixa postal 71857630-373 Relíquias/Odemira
Tel: 283 635 106
Fax: 283 635 107
eMail:
gounden@clix.pt


Tretas_pra desligar o cérebro e ligar o Humor



“Todos os animais são iguais. Mas uns são mais iguais que outros...”. A frase é do George Orwell mas o cartoon é do Luís Afonso. Genial.

06 outubro 2008

Diálogos sobre a Terra

Testemunho / Comentário de Porta Paralela:
Olá,
"O mais difícil mesmo é tirar das pessoas os conceitos confortáveis e difusos que lhes foram incutidos durante anos."
Pois agora é que tu disseste tudo !Acredito que passe muito por ai ! E contra mim falo mas realmente é um conceito confortável.
Foi esse sentimento que o tal representante de uma empresa que estava na feira de Oeiras não me retirar.Mas porque razão não consegui ainda mudar a minha opinião ? Bom nestas coisas cada um é como é.
Eu por exemplo gosto de ver e experimentar antes de comprar.
Mesmo tendo-vos aos dois como boas referências, credíveis e de confiança, que não estão a querer vender, de quem normalmente fujo e duvido, mais sim informar e partilhar, a mudança de opinião ainda não aconteceu por causa disso. Da experiência.
Acredito que a vossa formação e profissão vos tenha já proporcionado isso em relação a este tema. Mas como estou afastado do meio não tive ainda essa oportunidade.

Admito que se por exemplo tivesse amigos ou familiares, proprietários de uma construção deste tipo, onde eu pudesse avaliar, ver e como eles partilhar a experiência sobre todos os aspectos, ou ainda que houvesse algum espaço publico que usasse este tipo de solução, onde pudesse "ver e experimentar", sentir a casa em diversas alturas do ano, pudesse mudar a minha opinião.
Sobre a manutenção, tenho a ideia de que mesmo precisando de manutenção, uma casa de tijolo e cimento não deve precisar da mesma manutenção, se calhar mais atenta e cuidada que acredito deve ser necessária na construção em terra. Confirmas este ponto ?
O mesmo acontece com as casas de madeira que necessitam ser cuidadas no seu material para que durem muitos anos."

Resposta de Taipal:
Sem dúvida que em relação à Arquitectura de Terra a experiência muda tudo, arrisco-me a dizer que primeiro estranha-se e depois entranha-se. CUIDADO! A plasticidade e a textura do material vão apaixoná-lo no momento que tomar contacto com ele!!
E realmente não estamos a tentar vender nada, tanto podemos projectar em tijolo, em vidro, como em canas de bambu, apenas queremos passar aquilo que é uma boa ideia, um material com longa história e um enorme potencial, com características únicas.

Não é preciso esconder, tem fraquezas, mas a inteligência e uma contrução integrada podem facilmente fazer delas forças. Quanto à questão que coloca sobre a manutenção, depende se a taipa (neste caso) estiver à vista ou revestida(nunca se deve rebocar com cimento), se se encontra no interior ou no exterior, mas precisa de pouco mais que uma escovagem com escova macia ou uma consolidação anual ou bi anual com consolidante natural (tipo água de cal pulverizada). Conheço no entanto diversos casos onde até hoje nada disto foi feito por nem sequer precisarem.

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Fotos1 e 2_Habitação e Atelier_Cortinhas_São Luís_Odemira
Arq. Alexandre Bastos



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Fotos 3 e 4_Mercado de São Luís_Odemira
Arqtos Teresa Beirão e Alexandre Bastos
Apresento-lhe agora dois casos para reflexão e conversa.
O primeiro é o seguinte, é hoje possivel perceber que o Betão visto no seu início como material SuperHerói e eterno, não o é. As "fibras" metálicas que lhe conferem resistência aos esforços quando oxidam criam graves problemas na estrutura, e isto pode ocorrer entre os 10 e os 50 anos após a construção, tendo por isso um tempo de vida limitado.

Será que todas as pessoas têm a consciência da dificuldade e custos de recuperação da corrosão interna numa estrutura em betão e já agora do consumo de energia estúpido que é necessário para reciclar a mesma?

Uma outra situação;
Uma boa parte dos habitantes da "nova" Aldeia da Luz queixam-se ainda hoje de que para além das "tretas" da EDIA, com os equipamentos prometidos que ainda não foram feitos, da Vila não ser igual, que sentem sobretudo de que as suas casas são frias no Inverno e muito quentes no Verão e que apresentam um grande vazio em relação às antigas habitações.
Aldeia da Luz_2001_foto de Alina Maria Sousa

Aceitando que esse vazio possa também resultar do trauma da deslocalização para um espaço desconhecido, atrevo-me a introduzir o facto das construções antigas contemplarem, técnicas de construção tradicionais como a taipa, com paredes grossas com suficiente inércia térmica, que respiravam e que conferiam às habitações uma alma que o tijolo e o cimento não têm, aspecto fundamental e não previsto por quem projectou e construiu a nova Aldeia da Luz.

05 outubro 2008

Texto_A Construção com Terra em Portugal

Encontrei aqui há uns tempos este texto/noticia, no decurso das pesquisas constantes pela net no site da voz do operário (http://www.vozoperario.pt/jornal/) e apresento-o agora (com a devida referência e elogio à autora) porque creio que espelha muito bem a realidade actual, as condicionantes e o potencial que a Terra pode ter como material de construção.
Tem como interluctor o Arquitecto Miguel Mendes (ver http://www.mumemo.blogspot.com/) que é já uma referência nestas coisas da Terra.
O texto é uma excelente forma de "Iniciação" e vale bem a leitura.
A construção com terra em Portugal
Escrito por Isabel Carvalho
Segunda, 11 Dezembro 2006
Anciã técnica construtiva responde a novos desafios

Fotos: Arquitecto Miguel Mendes
A construção de edifícios em Portugal, sejam eles para habitação ou para outros fins, continua a não responder de forma cabal às actuais necessidades de isolamento, eficácia energética e conforto, entre muitos mais aspectos. E, isto, apesar de modo comum se dizer que os materiais evoluíram, que as técnicas evoluíram.
Ora, se assim é, porque continuam os nossos edifícios a necessitar ser “climatizados”, ou seja, a ser frios e húmidos no Inverno e verdadeiras salas de sauna no Verão? Porque vamos encontrando aqui e além fundamentadas críticas que nos alertam para a má construção e para a premente necessidade de uma “revolução” na forma de construir em Portugal.
Em boa verdade, em matéria de construção, o período que vivemos é de despertar. Um despertar lento, é certo, mas mesmo assim imprescindível, pois as novas realidades que a este nível se apresentam na nossa sociedade a isso conduzem.
Assim sendo, é frequente ouvir-se falar da diversificação das técnicas de construção como um dado positivo. Mais, é da ainda débil divulgação dessas técnicas que paulatinamente emana, por um lado, o repto às consciências (técnicas e leigas) e, por outro, o seu papel tendencialmente preponderante que arrasta, em certos casos, para o presente um conjunto de antigas soluções construtivas, algumas milenares que, mercê de diversos factores, hoje nos parecem novas.
Os desafios da nossa sociedade actual, em muitos aspectos carente, sobretudo em termos energéticos e de sustentabilidade há muito que vêm acordando preocupações ecológicas neste cadinho, bem como em outros locais do planeta, onde o esbanjamento energético tem sido – continua a ser – uma característica desprezível e preocupante, também ao nível da construção e da arquitectura.
Em nome do bem-estar, do conforto e de mais umas quantas legitimas aspirações humanas, passámos décadas e continuamos, a projectar e a fazer edifícios, que unicamente alimentam toda uma indústria de grandes impactos sobre o ambiente e consumidora de muitos recursos, incluindo água.
Em períodos sucessivos a tendência foi para a eleição de priorados ao nível dos materiais básicos de construção. Primeiro foi o tijolo cozido, depois o cimento, a seguir o betão... E, sempre, em doses inusitadas e com um alto custo energético.
Os dias que vivemos são agora outros e o conhecimento científico e técnico vem dando frutos, desde logo, porque já demonstrou que a factura energética dos edifícios pode ser reduzida em cerca de 25 por cento. Para tanto há apenas que repensar, reformular a nossa arquitectura, a nossa construção.
É pois partindo da ideia de que os edifícios do futuro podem potenciar a redução dos consumos de energia, seja durante a obra, a sua vida útil ou, posteriormente, na sua demolição, que fomos em busca de informação à Associação Centro da Terra (CdT), fundada em Novembro de 2003, para o estudo, documentação e difusão da construção com terra.
Do velho se faz novo...
A terra é, desde tempos remotos, um dos principais materiais de construção usado pelo Homem, pois, se por um lado, estava à mão de semear, por outro, era facilmente conformada e naturalmente seca. Sobre este seu uso, perdido nas dobras do tempo, existem hoje diversos estudos arqueológicos que o atestam, indicando até construções em terra de aproximadamente dez mil anos.
O arqueólogo Cláudio Torres não vai tão longe no tempo, embora no seu artigo “A memória da terra” – in “Arquitectura de terra em Portugal”, editado pela CdT e publicado, faz um ano, pela “Argumentum”, – fale da ancestralidade da construção em terra e da sua chegada à Península Ibérica por volta do século XI, para concluir que “seja seguindo com rigor as velhas tradições, seja experimentando novas técnicas, a construção em terra parece imparável, abrindo perspectivas insuspeitas na economia de meios, na qualidade ambiental e mesmo na variedade e equilíbrio de volumes, tão necessários a uma requalificação da nossa arquitectura” e, claro, por oposição, a uma sociedade de consumo, “em que a eficácia do cimento e a arrogância do betão armado tudo dominam”...
Em boa verdade não é despiciendo pensarmos que, à semelhança do que acontece em outras áreas, a inclusão da construção em terra no contexto actual, onde prevalece a lógica da economia de mercado, pode significar o seu apagamento ou, no mínimo, o risco de ser uma mera solução pontual e de excepção. Talvez por isso, o arquitecto Miguel Mendes, da direcção da CdT, afirme convicto que “a valorização da técnica da construção em terra crua tenha de passar por duas frentes incontornáveis”, como sejam a “da sofisticação e a da modernização da sua execução e do seu desempenho a nível económico”.
Segundo as suas palavras, “a maioria dos problemas que afastam a opção de construir em terra crua deve-se, não às características do material, mas antes à sua fraca divulgação; à ausência de uma estrutura de mercado que ofereça mão-de-obra competente, competitiva e disponibilize informação técnica; à deficiência de enquadramento jurídico e regulamentar a nível legal e, sobretudo, à própria dinâmica intrínseca da técnica construtiva ao nível da execução”.
A construção em terra, como explica, “é basicamente a utilização do material terra, sem transformação, a que chamamos terra crua, por oposição à terra cozida. E, idealmente, tira-se do próprio terreno e constrói-se com ela, utilizando técnicas tradicionais, que em Portugal são três: a taipa de pilão (assim denominada para não haver confusão com os termos usados nos Palop ou no Brasil), o adobe e a taipa de chapada ou sopapo também conhecida por taipa de tabique ou fasquio. Mas hoje em dia, além das actualizações destas técnicas tradicionais, existe uma outra denominada BTC (bloco de terra comprimida), que também se usa entre nós”.
Os argumentos fundamentais empregues na defesa desta técnica têm partido do facto de a terra ser um material abundante e reutilizável, não processado industrialmente e, por comparação com outros materiais, ecológico.
Todavia, para Miguel Mendes falar na construção em terra pode não ser necessariamente falar em eco-construção ou em construção sustentável, pois sublinha: “Muitas construções em terra ficam aquém do vasto universo de desafios a que a eco-construção e a construção sustentável pretendem dar resposta. Ou seja, o simples facto de se construir em terra, apesar de ser um bom ponto de partida, não é garantia de se estar a executar um edifício de cariz realmente ecológico e sustentável. Porém, no âmbito da construção sustentável e da eco-contrução, a terra é um material que tem lugar cativo, pelas suas características, tratamento, aplicação e desempenho – mas isso sempre com complemento de outras preocupações, opções de projecto e questões técnicas e éticas”.
O seu uso pressupõe economia de meios, de recursos, de material, de tempo e, portanto, como realça, “não polui e não tem aquilo a que se chama energia intrínseca, que é a energia dispendida por uma material no seu fabrico, mas também na extracção da matéria-prima, na sua transformação, no transporte do material fabricado, no circuito de revenda (em termos energéticos, claro) até chegar a uma obra, na sua aplicação em obra, no seu rendimento ao longo da vida, até aos trabalhos para a sua demolição e, inclusivamente, no seu processo de decomposição ou de reutilização”.
Com este quadro, não é difícil de inferir a pouca receptividade que uma tal técnica poderá ter ao nível dos grandes construtores nacionais, com cujos interesses, obviamente, colide. Porém, na perspectiva do arquitecto, no que diz respeito à aplicação da técnica nos dias que correm, a CdT e os seus associados “já conseguiram colocar a santa no altar, embora ainda se esteja no adro da Igreja”, o que significa que há um longo caminho a percorrer e ainda muito trabalho a fazer, apesar dos passos já concretizados lhe terem dado alguma visibilidade.
Da visibilidade à desmistificação e ao futuro...
Para o arquitecto, a construção em terra crua tem futuro em Portugal e o trabalho concretizado demonstra-o. É certo que tem sido importante desmistificar um conjunto de ideias feitas ou de preconceitos inerentes à terra, desde logo o do desconforto e o da durabilidade. Este, um mito facilmente abalado pelos testemunhos existentes no mundo e em Portugal, como é o caso do “Castelo de Paderne, do século XII, que ainda lá está, à chuva e ao vento, todo em taipa”.
Seja como for, a projecção da construção em terra no futuro depende, como defende Miguel Mendes, “do desenvolvimento tecnológico e técnico” em moldes que permitam “a massificação da construção em terra, ou seja, o seu enquadramento no contexto actual da standartização”. Esta, uma posição que, o arquitecto reconhece, ainda não gerar consensos, ao afirmar que “a construção em terra crua está ainda associada a um certo apego excessivo à tradição, pelo que a standartização é vista como um sintoma de industrialização, o que lhe retiraria uma grande parte do seu interesse, sobretudo, a nível económico”.
Para o nosso interlocutor, um dos aspectos mais interessantes da construção em terra é que, no final, “se a obra sai ao preço de uma construção convencional é porque se gastou menos dinheiro em material e um pouco mais em mão-de-obra, o que dinamiza as economias locais. Ora, se fosse completamente industrializada, perderia este lado interessante. A sofisticação da técnica e da fabricação, como há casos em outros países, não desvirtuam, contudo, o uso da terra enquanto material, mas permitem outro tipo de utilizações e abordagens”.
Depreende-se assim que a terra crua é resistente e o seu uso como material de construção pode ter custos mais baixos, similares ou mais elevados que a construção convencional. As razões desta variabilidade são muitas, as principais parecem depender do profissionalismo de quem projecta, coordena e executa a obra, pelo menos, estes foram os elementos que retivemos das palavras do arquitecto quando falou da qualidade do produto final, das capacidades do gestor de projecto, da boa concepção do projecto para ser construído em terra e da sua pormenorização ou ainda quando advertiu para o facto de tanto o cliente como o projectista não caírem na tentação de “dar passos maiores que as pernas que têm”.
A terra, conforme Miguel Mendes, é um material que pode ser gratuito, todavia, obriga a custos acrescidos com a mão-de-obra. Logo, sublinha, “cada pequena sofisticação, cada requinte pesa a dobrar, porque não é o mesmo que realizar uma sofisticação em betão. Dando um exemplo prático e simples, imaginemos a construção de uma sala em taipa. Supondo que ela tem 4,50 metros e o meu taipal 1,50 metros, faço três taipais e passo para o bloco de cima. Mas, se eu projectar a sala com 4,70 metros, faço três taipais e sobram-me 20 centímetros. Ou seja, preciso de um taipal feito em rampa, que dá muito mais trabalho, para encher esses 20 centímetros. Desta feita, vou demorar/precisar de mais tempo, mão-de-obra e trabalho. Este é um exemplo básico que mostra como este tipo de pormenores podem mudar todo o planeamento, daí que seja preciso saber-se muito bem com o que se está a lidar”.
Apesar deste discurso o nosso interlocutor considera ser possível “com um controlo económico rigoroso, com uma boa racionalização de projecto e um bom plano de trabalho” fazer uma casa mais barata que na construção convencional, porém, sublinha: “É sem dúvida possível e bastante frequente fazê-la pelo mesmo preço. E, é perigosamente possível fazê-la por um preço muito mais alto, caso o processo não seja conduzido e executado por intervenientes capacitados para tal, nomeadamente através de uma boa gestão de projecto e obra, como se disse antes”.
Pela promoção do “novo”...
Depois de desmistificar, depois de acabar com os equívocos e as confusões relativas à construção em terra, Miguel Mendes defende a necessidade de lhe “baixar o nariz”, que é como quem diz, de assentar ideias e conhecimentos.
Para o arquitecto trabalhar com terra não é o mesmo que trabalhar com outros materiais, desde logo, porque “a terra não se comporta como os materiais industriais. Isto é, estamos a lidar com um material praticamente vivo, aliás se cavar aqui tenho uma terra se cavar noutro local tenho outra diferente. Por vezes, mesmo no próprio terreno de intervenção, a terra altera-se no espaço de alguns metros, ou apenas pelo facto de ser extraída a profundidades diferentes, num mesmo ponto. Portanto, trabalhar com terra não é um dado adquirido é algo que se vai aperfeiçoando”.
De qualquer modo, releva que a intenção é “tornar a construção em terra numa coisa vulgar, que não seja nem obtusa nem elitista. A terra deveria pois ser encarada, – independentemente de todas as mais valias mesmo as ecológicas e ambientais – simplesmente, como um material de construção. É um facto que a terra é um material extraordinário, mas não é infalível nem boa para tudo, porque tem limites. E, em algumas propriedades específicas tem limites bem mais próximos que os do betão e, isso, é uma das coisas que leva a que a construção em terra não seja tão frequentemente proposta pelos arquitectos”.
Em conclusão: “A terra é um material abundante, com inúmeras características ecológica, começando pelo simples facto de estar no local da obra e ser completamente reciclável. Tanto, que posso destruir uma casa de terra e construir outra com a mesma terra... Depois, é um material que não sendo o melhor em termos de desempenhos pontuais de qualquer umas das solicitações a que está sujeita, acaba por ser o melhor no cumprimento cumulativo de todas as solicitações. Ou seja, não é o melhor isolante do mundo, nem o melhor resistente à compressão, etc., etc., mas é dos únicos materiais que reúne todas essas condições e que desempenha todas as tarefas de forma muito satisfatória ao mesmo tempo. Portanto, acho que é um material com muito, muito futuro, embora seja também um material a saber domar. A sua técnica tem muitas nuances mas não é nenhum bicho-de-sete-cabeças. E, como se costuma dizer nos meandros da construção em terra, ao contrário daquela frase feita em que o 'segredo é a alma do negócio', neste caso, a alma é o segredo do negócio, porque é fazendo com a alma, com muito empenho e dedicação, que tudo funciona”.