Em tempo de ditadores e invasões irracionais e atordoados por uma guerra inaceitável, eis que uma notícia de rodapé nos jornais internacionais nos deixa felizes, o arquitecto Diébédo Francis Kéré recebeu esta semana o Prémio Pritzker 2022.
Sucede assim a Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal na atribuição deste prestigioso prémio, pela autoria da sua obra em África composta por uma síntese subtil de recursos tradicionais como a terra e técnicas modernas de construção como o BTC, a taipa e os adobes. Esta tem o valor de um exemplo para todos os arquitectos pelo Mundo, num momento em que, como nunca, é tão importante repensarmos a relação das construções com a natureza e a qualidade ambiental dos espaços onde vivemos.
Diébédo Francis Kéré
Natural do Burkina Faso, Diébédo Francis Kéré, nasceu em 1965 e é autor de uma dezena de obras, a maioria construída no seu país, recebe agora este prémio por todo o seu trabalho. Graças a uma bolsa de estudos, este filho mais velho de um chefe de aldeia - foi instruído como carpinteiro (num país com pouquissimas florestas) e como tal, foi então o único autorizado a matricular-se na escola - podendo mais tarde sair para o estrangeiro e seguir o ensino na Universidade Técnica de Berlim. Formou-se em Arquitetura em 2004.
A escola primária de Gando é o seu primeiro projeto, iniciado em 2001. Construído num modelo colaborativo com e pelos próprios moradores da aldeia, o edifício é feito em construção de tijolos de BTC, com adição de uma pequena % de cimento (estabilização com aprox. 8%), apenas para garantir maior solidez das paredes e durabilidade à humidade. Um sistema de telhado duplo permite ainda a ventilação natural dos interiores: um telhado metálico é colocado sobre uma treliça estrutural, ele próprio apoiado sobre uma abóbada de tijolos em pré-esforço. A sucção do ar natural é produzida pelas diferenças de temperatura entre os diferentes volumes.
Ao combinar as práticas vernáculares do seu país de origem e os conhecimentos de bioclimática adquiridos durante os seus estudos, Francis Kéré liberta o desenho e a arquitetura das lógicas económicas globalizadas para ancorá-la no seu contexto e produzir espaços com identidade, extraordinriamente bem adaptados ao clima subsahariano do Burkina Faso.
A ampliação dos espaços de obras para a participação de toda a comunidade torna-os locais de emancipação individual e auto-desenvolvimento social.
Seguindo estas preocupações ambientais e sociais, a escola secundária Schorge em Koudougou (Burkina Faso, 2016) foi projetada à maneira de uma vila tradicional. É composta por nove módulos retangulares dispostos em círculo em torno de um pátio, que também serve como praça pública.
No centro do projeto estão os diferentes dispositivos implementados para garantir tanto ventilação natural, proteção contra radiação solar e filtragem de luz. Na periferia dos módulos, uma galeria coberta feita com troncos de eucalipto constitui uma primeira barreira térmica e um espaço sombreado.
Vencedor do Prêmio Global de Arquitetura Sustentável em 2009, Diébédo Francis Kéré é deste modo o primeiro africano a receber o Prêmio Pritzker. Em 2013 a sua obra foi objeto de uma grande retrospetiva , no Arc-en-Rêve, em Bordéus e que pode ser revista aqui.
Parabéns ao arquitecto Diébédo Francis Kéré e toda a sua equipa!
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