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11 maio 2024

Béton de site ou terre coulée_Matthieu Fuchs_Topophile

Béton de site ou terre coulée

Matthieu Fuchs | 27 octobre 2020

Tradução livre por ArquitecturasdeTerra do original em Francês (FR) para Português (PT) 

https://topophile.net/savoir/beton-de-site-ou-terre-coulee/ 

INTRODUÇÃO

A arquitectura contemporânea entusiasma-se hoje com a construção em terra crua, redescobrindo velhas técnicas e inventando novas.

A técnica da Terra Vertida ou ‘Terre Coulée’, também chamada de 'Betão de argila', desperta atualmente muito interesse, em particular pela sua execução e cofragem muito semelhantes à do betão de cimento, e neste sentido pelo seu potencial de massificação, mas também de debate e crítica pela atual adição de cimento, promovendo a sua industrialização, ignorando a origem local dos recursos. 

Matthieu Fuchs, arquitecto que implementou a técnica de terra vertida em obras como o Groupe scolaire Paul-Bayrou à Saint-Antonin-Noble-Val (Tarn-et-Garonne) e a casa das Associações de Manom, apresenta-nos as novidades desta técnica com terra.

A terra vertida ou ‘Terre Coulée’ é a mais nova das muitas técnicas de utilização da terra como material de construção, ao lado das ancestrais taipa de pilão e do adobe moldado. Também chamada de betão de terra ou betão de argila, esta é sobretudo um método de execução simplificado, reproduzível e acessível a um leque alargado de empresas.

A ideia de ‘verter’ a terra nasceu por volta de 2010 a partir de pesquisas e experimentação por vários protagonistas do setor de construção francês e, em particular, pelos engenheiros Martin Pointet, Bernard Schmitt, Cécile Plumier, Jean-Marie Le Tiec de BE Terre e BE Vessière.

Utilizando uma formulação semelhante à taipa de pilão, eles queriam torná-la líquida o suficiente para despejá-la entre duas formas impermeáveis ​​e assim criar uma forma, sem compactação, como o betão de cimento convencional.

O objetivo principal é obviamente reduzir os custos de implementação em obra para oferecer as vantagens deste material a um maior número de pessoas: a sua inércia térmica, o conforto higrométrico e mudança de fase/estado.

Para além disso, a terra vertida reforça a sua legitimidade pelas respostas eco-responsáveis ​​que fornece a um extenso número de questões contemporâneas: a energia incorporada, a valorização dos circuitos locais, a reutilização e desconstrução.

Recorde-se que à escala global, a quota parte das fábricas de cimento nas emissões de gases com efeito de estufa oscila entre os 7 e os 9%. A fabricação do cimento, que constitui 15% da formulação do betão armado, requer uma grande quantidade de energia para quebrar a molécula de sílica em duas. Para além das emissões relacionadas apenas com o aquecimento, a reação química liberta uma quantidade significativa de CO2. A isto deverá juntar-se uma grande quantidade de areia e cascalho, a acrescer à energia necessária para produzir os aços, é então fácil perceber a necessidade, até mesmo a urgência, de nos libertarmos da nossa dependência construtiva deste material.

 

A TERRA VERTIDA

A terra vertida pode assim ser um primeiro passo nessa direção. O ideal será no entanto utilisar um solo que contenha naturalmente, e em proporções equilibradas areia, cascalho, mas também argila fina. Não podemos esquecer que existem tantos terrenos diferentes quantos são os terrenos. Caso o solo do local não seja equilibrado, é sempre possível uma reformulação/estabilização (adição de areia, adição de brita, etc.).

Uma vez caracterizado o solo em depósito, diversos dispersantes, adjuvantes e sobretudo água, até 10%, são adicionados à mistura para tornar o conjunto uma pasta viscoso e liquidificado. Por fim, incorpora-se o cimento, numa dose muito baixa — 3% ou 5 vezes menos do que no betão convencional — para, essencialmente, garantir uma presa/secagem + rápida e manter as estruturas unidas durante a descofragem.

Para executar esta mistura, basta despejá-la entre duas formas estanques e expulsar as bolhas de ar com recurso a uma agulha vibratória, técnica ao alcance de qualquer empresa de betonagem de alvenarias de dimensão média. Para colocar tudo em compressão, são utilizadas hastes de aço roscadas que ligam em pré-esforço a sapata de fundação com a viga horizontal no topo da parede. Tal como acontece com a madeira e a taipa, o ‘inimigo’ será a água, pelo que é necessário evitar os fenómenos de ascensão capilar, salpicos ou escorrimentos superficiais.

 https://youtu.be/Pg17V3NChL0

Chantier terre coulée de la maison des associations de Manom par l'agence Mil Lieux [amàco]

TERRA VERSUS CIMENTO

Os exemplos construídos mostram a eficácia desta técnica em paredes estruturais, interiores e exteriores em edifícios de um a três pisos. Devido à ausência de reforço interno, a resistência mecânica destas estruturas é obviamente menor do que a de uma parede de betão armado. A sua resistência à compressão aproxima-se da de uma parede de pedra aparelhada, ou seja, cerca de 4MPa. Para compensar essa redução de resistência, a espessura / secção de terra é aumentada (em relação ao betão) para atingir 30 a 35 centímetros.

Entenda-se, no entanto, que a terra vertida não substitui o betão de cimento convencional e considerá-lo como tal será um erro fundamental. A única pergunta a fazer-se será: o material está a ser utilizado no contexto e lugar corretos?

O betão armado pode e deve ser valorizado para aplicação em obras muito definidas, onde é a melhor solução. Se for necessária uma estrutura que exija tensões significativas, devemos tentar reduzir ao máximo o material mobilizado. O risco é que com um desempenho equivalente, o ganho inicial obtido na redução do cimento seja quase nulo, ou mesmo desfavorável para a solução de terra, pois as suas paredes serão mais espessas. Por outro lado, podemos facilmente substituir o betão em estruturas menos solicitadas.

Pense-se em particular em paredes transversais internas ou mesmo na forma de betonilhas de compressão ou betonilhas de aquecimento.


UM MATERIAL LOCAL

O betão argiloso deverá ser pensado localmente e não como um produto padronizado. Como grande parte da energia incorporada dos materiais de construção provém do seu transporte / deslocação, é assim necessário conseguir explorar depósitos de terra, tal como a madeira das florestas próximas, em modelos ágeis de economia circular. 

Um novo setor será assim desenvolvido, que vai do operador da pedreira aos empreiteiros em obra, passando pelo controlo de qualidade e a prévia definição e preparação de aglutinantes, argamassas e outros materiais de ligação em fileiras específicas de fábricas de cimento.

O ideal, como referido, será obviamente utilizar sempre o solo de escavação do próprio local da obra. De antemão, é necessário que os arquitectos e projetistas, mas também os engenheiros e geotécnicos, aprendam a ler, analisar, entender e conhecer as terras locais. No entanto se isso não for possível ou se a sua reformulação for muito onerosa ou mesmo demorada, perdendo assim a sua pertinência num contexto de obra, outras opções podem ser encontradas, como o aproveitamento de resíduos de pedreiras não valorizáveis, ​​como as britas, pós de pedra e argilas finas ou o aproveitamento de terras de entulhos de um local de terceiros localizado idealmente nas proximidades.

 

REGRESSO À TERRA

Hoje, esta técnica está a tornar-se mais democrática e, graças à multiplicidade de exemplos construídos, os obstáculos começam a ser removidos. Como qualquer técnica experimental, o primeiro obstáculo é a ausência de D.T.U. (documento técnico unificado) e regras profissionais, muitas vezes exigindo testes de campo e outros ATEX (avaliação técnica de experimentação) com o C.S.T.B. (Centro Científico e Técnico da Edificação). Também é necessário convencer os gabinetes de fiscalização e de controlo em obra, os Donos de obra e os futuros utilizadores.

O maior problema, no qual a pesquisa e investigação neste domínio se encontra a trabalhar atualmente, é conseguir a total ausência de cimento na formulação da composição da parede. Para esse objectivo, será necessário investigar também métodos inovadores de cofragem. Como exemplos, Philippe Madec está atualmente a trabalhar em gaiolas de juncos para a biblioteca de comunicação Jean Quarré em Paris, enquanto Guillaume Habert na ETH Zurich está a explorar uma formulação baseada em coagulantes naturais, com resultados entusiasmantes.

Isto alteraria também a gestão de resíduos e a pretendida desconstrução futura das obras, sendo estas essencialmente ‘pilhas de terra vertida’, e podemos facilmente imaginar e encontrar a natureza original dos elementos que constroem estas obras, desde que, claro, não sejam poluídas por cimento, o que dificultaria obviamente a sua reciclagem, nem a presença de reforços metálicos internos.

 

UMA NOVA EXPRESSÃO

Por fim, a terra vertida deverá ser entendida como uma nova expressão do material terra. A evolução da Arquitetura deverá resultar numa cada vez maior sobriedade e  credibilidade do material e uma das formas de o conseguir é deixá-lo mostrar-se com uma matéria-prima forte e perene, deixando ao mesmo tempo que o tempo se expresse.

Embora não tenha a imagem única e forte das camadas sucessivas na taipa (de pilão), a terra vertida possui também uma verdadeira plasticidade e uma ampla paleta de nuances. E tal como acontece com o betão cimentício, o trabalho nas pranchas de cofragem, nas suas marcas impressas pode ser explorado e valorizado, bem como as diferentes condições de superfície, como a  granulação, o jato de areia, etc. O único limite, como acontece frequentemente na arquitetura, é a imaginação do projectista.

Existe hoje um verdadeiro e interessante respeito por este material terra, talvez mais do que pelos outros. Na escola Saint-Antonin-Noble-Val, por exemplo, as crianças têm carinho genuíno e especial por estas paredes, são as “suas” paredes, porque sabem que estas obras contribuem para o seu bem-estar. No verão, durante as horas de maior calor, sentem mesmo necessidade de estar em contacto com elas tocando-as para sentir a frescura da sua inércia térmica.

E perguntamos...um material com o qual as crianças se sentem bem a brincar e a aprender, não será um material de qualidade?

Bibliografia

Dominique Gauzin-Müller (coor.), “Construir com terra vertida: uma revolução? », arquivo da revista D’A, n°278, março de 2020.

10 maio 2024

Full Immersion Nella Terra_Sardinia_Italy_2024

 

Full Immersion Nella Terra 2024

Earthen construction workshop, 22-26 June 2024.Sardinia, Italy.
Online conferences, 11 & 18 June 2024.
Hands-on Workshop
22 - 26 JUNE 2024 PARK OF SANTA MARIA DI SIBIOLA SERDIANA,SARDINIA, ITALY

DICAAR - Dipartimento di Ingegneria Civile, Ambientale e Architettura - Università degli Studi di Cagliari with the UNITWIN UNESCO Chair “Earthen Architecture, Building Cultures and Sustainable Development”, in collaboration with Luca Noli Association and Associazione Internazionale Città della Terra Cruda; supported by the Consiglio Internazionale dei Monumenti e dei Siti - Comitato Nazionale Italiano and the International Scientific Committee on Earthen Architectural Heritage of ICOMOS (ISCEAH), organize 5 days of hands-on workshop, thematic seminars on earth building and a guided tour to local earthen architecture.
The hands-on workshop will be coordinated by professionals trained at CRAterre and will take place at the Park of Santa Maria di Sibiola (Sardinia, Italy).
Participants will learn to employ soil as material for construction and the different earth building techniques.

06 maio 2024

Glossário de Construção em Terra_Tempo de Secagem

Tempo de Secagem

É a operação ou intervalo de tempo compreendido entre a aplicação de um determinado material e a sua secagem completa, consolidando ou fixando em profundidade.

O processo de secagem é muito importante para a qualidade de produção ou intervenção de reabilitação de uma parede de terra, variando nas suas diferentes técnicas, pelo que deve ser bem compreendido e acompanhado em fase de obra, e na utilização e/ou manutenção do edificio em terra crua.

No caso da construção em taipa, aquando do processo de compactação, a terra pré-preparada do tipo areno-argilosa deverá conter cerca de 5 a 8% de humidade, valor variável de acordo com a curva granulométrica e o tipo de argilas presente na mistura, formando uma massa heterógenea, húmida e com a plasticidade da argila, nunca demasiado molhada.

Ao contrário do betão, que cura e ganha rigidez totalmente por meio de uma reação química interna e irreversível, mas que permite após o fabrico, estimar a resistência máxima, por processos de controlo, possível apenas ao fim de vinte e oito dias (mantendo o material elevada rígidez, e ponte de transferência higrométrica, mineral e térmica), uma parede em taipa, compacta e heterogénea, com elevada inércia térmica e excelente isolamento acústico, internamente em termos de humidade, nunca deverá secar totalmente. 

A parede em taipa mantém na sua ‘alma’ um valor de humidade interna, que garante a coesão base e que serve de veículo para a sua principal característica de regulador higrométrico / inércia térmica. Neste sentido, em termos de resistência, por se tratar de um bloco areno-argiloso, este atinge um endurecimento ‘optimum’ (não necessariamente o máximo), após a compactação e aquando da retração das argilas por secagem natural, e que pode variar à medida que esta tem lugar. 

tempo de secagem depende principalmente: 

- das condições climatéricas do local da obra no momento da construção (se nos 38-40ºC do Verão do interior ibérico ou nos 10-15ºC do Inverno chuvoso do litoral atlântico); 

- da composição granulométrica;

- da utilização ou não de aditivos de estabilização;

- e claro, da espessura total das paredes (podendo variar de 45 a 70 cm).

Neste processo, o bloco / parede de taipa diminui cerca de 1% em volume, devido à retração/consolidação, e visível sobretudo nas suas juntas verticais (espaços facilmente preenchíveis e/ou reparados) e a coloração geral da parede ficará substancialmente mais clara na secagem.

Este espaço de tempo pode variar de 2 a 4 semanas (secagem superficial), ou seja, após a descofragem e para suportar em pleno as cargas/esforços atuantes na construção, a taipa deve ter no mínimo 14 dias de idade e estar plenamente seca ao toque. 
A parede levará no entanto aprox. 6 a 12 meses para atingir a referida humidade interna mínima de equilíbrio, e antes da aplicação de rebocos e pinturas definitivas. 
Se falamos de uma taipa que contém na sua mistura / composição aditivos estabilizantes naturais, ao tempo de secagem estará associado  um período de cura, que deverá ocorrer, variando de acordo com as recomendações para o estabilizante empregue, por um período mínimo de sete (7) dias, no caso de aditivos naturais. Caso a taipa estabilizada contenha um aditivo hidráulico cimentício (não ecológico e apenas eficiente mecanicamente com percentagens reduzidas, de 6 a 8%), e caso não existam recomendações especifícas no projeto de estruturas, ela deve ter no mínimo vinte e oito (28) dias de idade.
As formas de cofragem podem no entanto ser desmontadas logo após o término da compactação da mistura no bloco.

Neste sentido é considerada uma boa prática construtiva in situ executar as paredes em linhas de avanç ohorizontais ou por fases, permitindo alguma secagem, a natural retração e endurecimento, previamente à aplicação estrutural de lintéis de bordadura e coroamente, o encosto de pilares, contrafortes (os tradicionais 'gigantes') ou mesmo pré-esforços verticais e horizontais, ou mesmo antes de compactar outros blocos acima destes.

ventilação (fluxos de ar/humidade transversais) e a luz solar direta são também fatores relevantes considerar na secagem das paredes. Como impacto negativo eles podem causar uma secagem irregular dos blocos, originando patologias  como os arqueamentos ou empenos diferenciais dos paramentos.

Assim, é importante considerar em paralelo, sempre que necessário, em projecto e/ou em fase de obra, reforços de sustentação dos blocos mais expostos a esforços transversals, bem como a manutenção nestes da cofragem durante a fase inicial de secagem. 

Para além destes reforços e, num contexto de condições climatéricas mais adversas, com chuva e neve persistentes, de modo a preservar a taipa da exposição e humedecimento prolongados à água, será de considerar a protecção   contra as intempéries dos topos de paredes de taipa desenformadas durante a obrae a cobertura / revestimento,  com recurso a mangas plásticas hidrófugas, salvaguardando deste modo o respaldo ou 'alma' da taipa, e desde que assegurem o comportamento higroscópico da parede.

Numa fase posterior deste momento da intervenção, poderá considerar-se a aplicação de rebocos, desejavelmente compatíveis e bem ventilados, bem como enquadramentos de taipa à vista, que permitam à parede ‘respirar’, secando naturalmente e deste modo de forma mais homogénea.

ArquitecturasdeTerra Maio2024

04 maio 2024

Exhibition “Down to Earth: Indigenous Building Technologies”_Pratt University USA

 

Exhibition “Down to Earth: Indigenous Building Technologies”
April 30 – May 7, 20247:00 PM – 5:00 PM
Higgins Hall, Leo J. Kuhn Lobby Gallery
Gallery opens April 30th at 7pm. Join us for a very special exhibition in the lobby of Higgins Hall from May 1st-7th! “Down to Earth: Indigenous Building Technologies” will feature the work of Historic Preservation and other GCPE students who participated in a course taught by Visiting Assistant Professor Debora Barros called “Indigenous Building Technologies as Climate Solutions” which traveled to Brazil during spring break. 
Students participated with community members in a five-day hands-on workshop on earthen vernacular building techniques at TIBÁ Institute, a foremost center in bio-architecture nestled in Brazil’s Atlantic Forest. 
The multi-media exhibition displays their work making adobe bricks, wattle and daub, hyperadobe, geopaints, earthen plasters, tadelakt, and rammed earth, and engaging ed with the local community to build two hyperadobe benches at the soccer field of Barra de Santa Teresa, RJ.