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28 agosto 2009

Arq_Terra_Casa entre Muros_Equador

Divulgamos aqui mais uma pequena pérola recente (daquelas que ainda não vêm nas revistas mas que nos deixam felizes!) de construção com terra, desta vez mostramos a Casa Entre Muros, moradia construída em Tumbaco, Quito, no Equador, projectada por al bordE Arquitectos (David Barragán e Pascual Gangotena).


Segundo os donos, esta casa surgiu do desejo de se estabelecerem num espaço que o sentissem como seu, vivendo em harmonia com a Natureza; pela necessidade de autonomia dos três membros da família e construiu-se com a ideia inicial de que” existe sempre uma outra forma de fazer as coisas e diferentes formas de habitar”.
Deste modo, longe da poluição da cidade, esta moradia encontra-se encaixada numa das encostas do temível vulcão Ilaló, integrada numa paisagem de elevada pendente e espantosa beleza, virando-se o terreno de modo quase escandaloso!! para a vista do vale e limitado por dois pequenos ribeiros que se cruzam lá em baixo.
Assim, um corte em desaterro na geografia da paisagem permitiu criar uma plataforma onde implantar o projecto e também conseguir suficiente matéria-prima para construir as enormes e maciças paredes de terra.
Este corte no terreno determinou também a posição de cada parede de taipa, criando uma sucessão de paredes com diferentes alturas de cobertura. Um longo corredor é aqui utilizado como separação da envolvente para criar uma série de áreas distintas, reforçando por outro lado, a autonomia de cada espaço. E promovendo a abertura para a vista atractiva do vale
Outro dos aspectos interessantes neste projecto é a procura de uma relação harmoniosa entre objecto e lugar, determinante no desenho construtivo e no funcionamento da casa, por exemplo através do aproveitamento e tratamento das águas pluviais e o sistema de aquecimento solar, quer presente também pela via da tradição cosmológica.
Para isso procedeu-se a uma peculiar cerimónia de pedido de permissão ao vulcão e limpeza de energias negativas, com oferendas e bons augúrios a serem enterrados no centro energético da casa, na zona que divide o social e o privado, ponto de contacto entre os utilizadores e o vulcão.
Por outro lado percebemos uma forte preocupação com a materialidade em que a terra faz todo o sentido e tem papel de destaque.
A terra como material de construção é aqui, e muito bem, entendida como gerador de baixo impacto na envolvente, de baixo custo económico, a matéria prima é retirada do desaterro, não produz lixo de obra, armazena calor e regula o ambiente interior, ao possuir a capacidade de absorver a humidade mais depressa e melhor que outros materiais.
Este exemplo de Arquitectura de terra, seleccionado para os WA Awards Third Cycle Março 2009, procura assim colocar em evidência a natureza material dos elementos que a compõem potenciando as suas qualidades estéticas, formais, funcionais e de estrutura.
Ficha técnica
Arquitectos:
al bordE, David Barragán y Pascual Gangotena
Localização: Tumbaco – Quito – Equador
Dono de Obra: Sra. Carla Flor
Apoio Técnico: Arq. Bolívar Romero
Construtor: Sr. Miguel Ramos
Colaboração: Estefanía Jácome
Área do terreno: 5000 m2
Área de construção: 180 m2
Projecto: 2007
Construção: 2007 - 2008
Links para o site al bordE Arquitectos aqui e para a fonte da notícia aqui.

O que acham da obra, gostaram? Querem experimentar?
Falem connosco!
Querem divulgar projectos e ideias com terra?
Contactem o Arquitecturasdeterra!

26 agosto 2009

Ser Taipeiro é Fixe! (I)

Recebemos entretanto fotografias fresquinhas da evolução da obra em Odemira, que nos foram enviadas pelo encarregado, o Sr. Francisco Marques, a quem agradecemos, e que, para além da execução dos vãos e respectiva padieira em cimento, mostram a incrível velocidade de construção, sem dúvida dos aspectos que mais nos surpreende no processo da taipa.

Esperamos regressar a Odemira em breve, desta vez para ver fazer o lintel e montarem a cobertura da moradia.
Mais fotos desta novela de taipa em breve, num blog perto de si...

Rigoroso Estudo de uma Universidade Americana

Finalmente chegou aquilo de que precisávamos para dar credibilidade em Portugal à construção com terra...um rigoroso estudo de investigadores de uma Universidade Americana!
Uff, estamos salvos!...Qual crise!? Agora sim... damos a volta a isto...
Em seguida aqui fica a reportagem sobre o estudo apresentado.
"
"A new research has determined that the secret of a successful sandcastle could aid the revival of an ancient eco-friendly building technique.
The researchers, led by experts at Durham University’s School of Engineering, have carried out a study into the strength of rammed earth, which is growing in popularity as a sustainable building method.
Just as a sandcastle needs a little water to stand up, the Durham engineers found that the strength of rammed earth was heavily dependent on its water content.
Rammed earth is a manufactured material made up of sand, gravel and clay, which is moistened and then compacted between forms to build walls.
Sometimes, stabilizers such as cement are added but the Durham research focused on unstabilised materials.
The research showed that a major component of the strength of rammed earth was due to the small amount of water present.
Small cylindrical samples of rammed earth underwent “triaxial testing”, where external pressures are applied to model behavior of the material in a wall.
The researchers found that the suction created between soil particles at very low water contents was a source of strength in unstabilised rammed earth.
They showed that rammed earth walls left to dry after construction, in a suitable climate, could be expected to dry but not lose all their water.
The small amount of water remaining provided considerable strength over time.
According to the researchers, their work could have implications for the future design of buildings using rammed earth as the link between strength and water content becomes clearer.
There is increasing interest in using the technique as it may help reduce reliance on cement in building materials.
Rammed earth materials can usually also be sourced locally, thereby reducing transport needs.
As well as informing new build designs, the team hopes their findings could also aid the conservation of ancient rammed earth buildings by putting methods in place to protect against too much water entering a structure, which would reduce its strength.
According to research project leader, Dr Charles Augarde, of Durham University’s School of Engineering, “We know that rammed earth can stand the test of time, but the source of its strength has not been understood properly to date.”
“Our initial tests point to its main source of strength being linked to its water content,” he said.
“By understanding more about this, we can begin to look at the implications for using rammed earth as a green material in the design of new buildings and in the conservation of ancient buildings that were constructed using the technique,” he added. (ANI)"
Brincadeiras à parte, embora algumas das conclusões apresentadas sejam interessantes, e desmistifiquem alguns preconceitos, o estudo demonstra sobretudo como os americanos (alguns...é bom não generalizar) caiem facilmente em lugares comuns nestas coisas da construção com terra, e tudo nos é vendido como descobertas revolucionárias !
Oh senhores, saiam mas é do laboratório, vistam lá o calçanito, o téninho e a meínha branca, e visitem países como o Mali, Marrocos, o Yémen ou aqui o Sul de Portugal (reparem como aproveitamos e promovemos o Turismo nacional!) e deixem-se de tretas! Parem lá de inventar a roda!
aqui fica o link para a fonte

25 agosto 2009

Reportagem BBC_Marcial Blondet



Ainda bronzeados das férias recentes, aproveitamos para divulgar no ArquitecturasdeTerra uma interessante reportagem para a BBC no Perú, onde o conhecido engenheiro e professor Marcial Blondet nos fala da relação e influência dos sismos nas estruturas de construção em adobe e como é possível melhorar o seu desempenho face a esses fenómenos naturais, através de técnicas e materiais actuais.

Para ver a reportagem, podem clicar aqui.

13 agosto 2009

Ser Taipeiro é FIXE!!







Regressados que estamos de umas férias saborosas nos Açores, aqui ficam algumas fotografias da mais recente aventura do Pedro como taipeiro no Alentejo litoral, mais propriamente na Boavista dos Pinheiros, junto a Odemira, de 20 a 24 de Julho.
Há uns mesitos atrás fomos convidados, (desafiados do tipo - vocês querem experimentar?! não eram capazes...querem mesmo?! ok, vejam lá! ok...está bem...eheh, ok chatos!) pelo arquitecto Henrique Schreck, a quem não me canso de agradecer o convite.
Já tinhamos feito taipa anteriormente em vários encontros e workshops, mas nunca "a sério". A ideia era assim responder a uma paixão daquelas que a gente não explica... assentar as muitas teorias arrecadadas sobre o assunto, pôr as mãos na massa e aprender fazendo!
A Eva teve que se cortar (são mais lúcidas as mulheres...) por não ter mais dias de férias disponíveis e lá rumei eu para o sol do Alentejo com destino São Teotónio, a partir daí as imagens dizem o resto... e adorei a experiência! Fiquei com as mão cheias de bolhas e um caparro considerável... foi durinho fisicamente mas sinceramente espero repetir! Agora contamos seguir de perto o resto que ficou por fazer da moradia.

Quanto ao processo construtivo da taipa, enfim, fiz de tudo como os outros, bati muita taipa, acartei baldes, montei e desmontei vezes sem conta o taipal...tudo!...menos as aguardentes depois do almoço e depois ir trabalhar, isso naaa! Preferia ficar-me por uma garrafinha de água das pedras enquanto os meus colegas davam uma de macho!
Já agora, uma palavra para a hospitalidade e amizade com que fui recebido na obra, o Jorge (meu companheiro de taipal), o Carlos e o Márcio, o amigo Zé, o Garcia e o sr. Loução, (o patrão) tudo gente boa! é claro, são alentejanos!



Assim, para aqueles que pensam "mas este moço é maluucooo! tá paarvo, tira-me férias para ir trabalhar para as obras!" aqui ficam então algumas fotografias gostosas que mostram o porquê, a beleza do material (esta taipa é mesmo uma sedutora!) e vislumbram o processo construtivo que é verdadeiramente simples mas ao mesmo tempo cheio de truques, deixando no ar questões (como a respiração da taipa ou a resistência do material) que tocam um raciocínio físico e palpável e ao mesmo tempo o domínio filosófico e intangível.

Para acabar e como resposta a alguns mails que temos recebido, aprendi também que este pode ser um processo economicamente imbatível (já vejo os vossos olhinhos a brilhar com cifrões...ou euros!), sem sombra de dúvida, pela rapidez de execução, pela origem e disponibilidade do material, sai mais barato, exige apenas boa coordenação e optimização na obra.




Cumprimentos e...boas férias
Pedro, o taipeiro